A recente deportação de brasileiros dos Estados Unidos, marcada por cenas de humilhação e violência, trouxe à tona uma questão já conhecida, mas frequentemente subestimada: a política implacável de imigração do ex-presidente norte-americano Donald Trump.
Desde a sua campanha presidencial, Trump nunca escondeu suas intenções de endurecer as regras contra imigrantes, especialmente os latinos. No entanto, a forma desumana e brutal como essas deportações ocorreram continua a chocar o mundo.
Brasileiros deportados nesta semana relataram maus-tratos durante a viagem de retorno. Algemados nas mãos, cintura e pés, muitos descreveram cenas que lembravam filmes de serial killers, como "Hannibal".
Relatos de tentativas de enforcamento e abuso físico apontam para um padrão de tratamento que vai além de uma simples aplicação de políticas imigratórias. Trata-se de uma mensagem clara e agressiva de Trump ao mundo, especialmente aos países latino-americanos: "Aqui, a lei é minha e será aplicada sem misericórdia."
É verdade que os deportados estavam em situação irregular nos Estados Unidos, e ninguém pode argumentar que o país não tem o direito de fazer cumprir suas leis. No entanto, o choque reside na brutalidade desnecessária com que essas ações são conduzidas. Não estamos apenas falando de deportações; estamos falando de um espetáculo humilhante que parece ter como objetivo desumanizar os envolvidos.
O silêncio constrangedor das lideranças políticas brasileiras também é digno de nota. O presidente Lula limitou-se a declarar que o Brasil e seus cidadãos devem ser respeitados, mas sem apresentar ações concretas para proteger os direitos dos brasileiros no exterior. Já Bolsonaro, admirador declarado de Trump, não proferiu uma palavra sequer, talvez por se encontrar em um dilema ideológico diante das ações do ex-presidente norte-americano.
Essa situação expõe um problema maior: o tratamento desumanizador que os Estados Unidos historicamente reservam aos imigrantes latinos. Embora petistas e bolsonaristas possam divergir em suas ideologias, a verdade é que, aos olhos das políticas de imigração norte-americanas, todos são tratados da mesma forma – como indivíduos descartáveis.
É crucial que o Brasil adote uma postura firme diante de situações como essa. Não se trata apenas de proteger seus cidadãos, mas de exigir respeito em um cenário internacional onde a diplomacia deveria prevalecer sobre a brutalidade.
O episódio, mais do que um lembrete da postura autoritária de Trump, deve servir como um alerta para que o Brasil repense sua estratégia de proteção aos brasileiros no exterior, independentemente de quem esteja na presidência dos Estados Unidos.
A ideia de reciprocidade nas relações internacionais é um princípio amplamente aceito. Se os Estados Unidos, sob a liderança de Trump, optaram por tratar imigrantes ilegais com uma dureza que beira a humilhação, surge a pergunta: o Brasil deveria adotar a mesma abordagem em relação aos norte-americanos ilegais em seu território?
O Brasil historicamente se orgulha de ser uma nação acolhedora, conhecida pela sua hospitalidade e abertura a estrangeiros. No entanto, a hospitalidade não deve ser confundida com complacência diante de práticas desiguais. Se o governo dos EUA adota uma postura agressiva e desumana contra os brasileiros ilegais, seria justo o Brasil, em nome do princípio da igualdade, agir com o mesmo rigor contra norte-americanos que vivem aqui sem regularizar sua situação.
Por mais tentador que pareça aplicar uma "política de reciprocidade", precisamos ponderar. Adotar o mesmo nível de brutalidade seria uma traição aos valores que o Brasil defende na esfera internacional. Não podemos justificar a desumanização de qualquer grupo com base em ações de um governo estrangeiro. No entanto, o Brasil tem, sim, o direito – e o dever – de aplicar suas leis de imigração de maneira firme e eficaz, garantindo que os estrangeiros em território nacional respeitem as normas locais.
Se a ideia é evitar "dois pesos e duas medidas", o Brasil deve, no mínimo, investigar os casos de norte-americanos ilegais com o mesmo rigor com que se espera que seus cidadãos sejam tratados no exterior. É preciso deixar claro que o país não aceitará passivamente a desproporcionalidade no tratamento.
Além disso, o Brasil deve pressionar diplomaticamente para que os direitos dos brasileiros nos EUA sejam respeitados. Essa postura não deve ser vista como retaliação, mas como uma defesa legítima da dignidade nacional e dos direitos humanos.
A resposta do Brasil a esses abusos deve ser inteligente, firme e pautada pelos valores democráticos que sustentam nossa sociedade. Isso significa aplicar as leis de imigração de forma justa, sem recorrer a práticas desumanas, enquanto cobra, em todos os fóruns internacionais disponíveis, o respeito aos seus cidadãos. É assim que se constrói uma diplomacia forte: com equilíbrio, dignidade e justiça.
Da Redação do 40 Graus.
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