Parque Engenheiro Geraldo Rocha, um espaço natural, bucólico, onde o verde e o natural ainda resiste heroicamente ao concreto invasor - Eis que, em meio ao burburinho citadino, uma visita ilustre dá o ar da graça: uma cobra jararaca, símbolo máximo do "terror reptiliano". Para os citadinos convictos, a presença da serpente equivale é uma afronta pessoal, quase um ato de rebeldia contra o progresso urbano. Afinal, o que ela fazia ali, em “nosso” parque? Não sabia que já reivindicamos cada palmo daquele solo como nosso?
A realidade, porém, é menos dramática e mais tragicômica: não são os animais silvestres que invadem nossas vidas; somos nós, os sapiens urbanistas, que os desalojamos com nossos empreendimentos e gramados sintéticos. A pobre jararaca provavelmente estava apenas tentando manter as aparências, agindo como se ainda tivesse o direito de existir onde sempre existiu.
O caso da jararaca no parque é mais um lembrete de que o desmatamento e a urbanização não são apenas eventos isolados, mas uma crônica de destruição anunciada. Primeiro, tiramos as árvores, depois as fontes de água. A seguir, transformamos os terrenos em condomínios fechados e shoppings climatizados. No final, quando uma cobra ousa aparecer no que resta da vegetação - mesmo que seja ali colocada - a chamamos de invasora. Ora, quanta audácia! Vai tomar pau na cabeça!
Para os moradores exclusivamente urbanos, que acham que leite nasce na prateleira do mercado e que cobras pertencem a zoológicos ou a filmes ruins de suspense, a jararaca é um escândalo vivo. "Onde já se viu uma cobra num parque natural"? Pensam, ignorando que, para ela, o parque é o último reduto de um território que já foi vasto, onde busca água e alimento.
Enquanto isso, para quem ainda entende que natureza não é mera paisagem no Instagram, o encontro com a jararaca é um lembrete claro: os animais estão apenas sobrevivendo ao que fizemos com o planeta - Mas "pera aí", o parque é natural ou artifical? Se natural, é o habitat dela!
Os discursos se repetem. "Precisamos de mais áreas verdes!", clamam os mesmos que depois se queixam da presença de uma onça ou uma cobra "ameaçando a segurança pública". A solução para evitar tais encontros? Não é exterminar a fauna restante, mas parar de tratar a natureza como se ela fosse um problema.
No fim das contas, a jararaca no Parque Engenheiro Geraldo Rocha não é a vilã. Ela é o sintoma de um problema que preferimos ignorar. Talvez, em vez de nos indignarmos com a presença dela, devêssemos olhar para nossos próprios hábitos. Afinal, quem está invadindo quem aqui?
Moral da história: se não quer trombar com uma jararaca, pense duas vezes antes de destruir o habitat dela. Porque, ao contrário de nós, que construímos muros e cercas, ela não tem para onde fugir. E olha que por enquanto não foi uma cascavel! Que meda!
Da Redação do 40 Graus/
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