O setor do agronegócio brasileiro atravessa um momento de pressão financeira, marcado pelo aumento da inadimplência e pelo crescimento dos pedidos de recuperação judicial. Esses fenômenos refletem os impactos de condições climáticas adversas e da baixa rentabilidade das commodities no mercado internacional.
De acordo com o Banco do Brasil (BB), principal agente financeiro do setor com 49,9% dos financiamentos, a inadimplência rural saltou de 0,71% para 1,97% entre os terceiros trimestres de 2023 e 2024, impulsionada principalmente por atrasos de grandes produtores. Na Caixa Econômica Federal, os atrasos superiores a 90 dias subiram de 0,75% para 3,35% no mesmo período.
Dados do Banco Central confirmam o aumento da inadimplência no crédito rural, que mais que dobrou entre clientes pessoa física, alcançando 2,3% em setembro de 2024, contra 1% no mesmo mês do ano anterior.
Outro indicador de fragilidade é o avanço nos pedidos de recuperação judicial por produtores rurais. De janeiro a setembro de 2024, pessoas físicas ligadas ao agronegócio apresentaram 426 solicitações, um aumento de 135% em relação às 127 registradas em todo o ano de 2023. Considerando também os pedidos de pessoas jurídicas e empresas, o total chega a 952 casos neste ano.
Segundo Marco Geovanne Tobias, vice-presidente financeiro do BB, parte da inadimplência está associada a essa judicialização, que, segundo ele, é incentivada por práticas de “advocacia predatória”. O executivo alerta que produtores que recorrem a essa medida enfrentam dificuldades para acessar novos financiamentos, comprometendo o ciclo produtivo.
Especialistas apontam que a ausência de uma cultura consolidada de seguro agrícola agrava os desafios do setor. Apenas 8,1% da área plantada no Brasil estava segurada em 2022, segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para o BB, a solução passa por estimular a contratação de seguros ou garantias na concessão de crédito, personalizando taxas de financiamento.
"A frequência crescente de eventos climáticos extremos exige maior adesão ao seguro agrícola e gestão financeira mais conservadora", afirma José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da MB Agro. Ele destaca que, embora o seguro seja uma ferramenta essencial, seu custo ainda é alto, especialmente para pequenos produtores, que dependem de programas subsidiados como o Proagro.
Apesar dos desafios, especialistas evitam classificar a situação como uma crise generalizada no agronegócio. O economista José Ronaldo Souza Jr., da Leme Consultores, projeta melhora para 2025, caso as estimativas de safra se confirmem. Segundo o IBGE, a produção de soja deve crescer 10,9%, enquanto a de milho deve avançar 9,1%.
Executivos de bancos e consultores concordam que o momento exige ajustes estruturais. "O agronegócio brasileiro tem potencial de recuperação, mas o setor precisa se preparar melhor para enfrentar os impactos das mudanças climáticas e oscilações de mercado", conclui Tobias.
Fonte: Portal do Agronegócio.
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