A Terra Indígena Iguatemipeguá I, localizada no município de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul, é um território identificado e delimitado pela Funai desde 2013, porém com processo de demarcação paralisado.
A área de Pyelito Kue, onde ocorreu o ataque, faz parte de uma retomada realizada pelo povo guarani kaiowá, marcada por tensões fundiárias e presença recorrente de grupos armados.
Desde outubro, quando os indígenas retomaram parte da Fazenda Cachoeira, sobreposta à TI, foram registrados quatro ataques, com escalada de violência crescente.
Na madrugada de domingo, por volta das 4h, aproximadamente 20 homens fortemente armados invadiram a área de retomada e iniciaram disparos contra a comunidade.
1 indígena morto: Vicente, atingido por disparo na testa.
4 feridos:
Dois adolescentes;
Uma mulher;
Outro jovem, atingido por arma de fogo;
Os demais com ferimentos por balas de borracha.
A comunidade relatou que o grupo cercou as casas e continuou atirando mesmo próximo às residências.
Os pistoleiros bloquearam acessos e destruíram uma ponte, dificultando a chegada das forças de segurança acionadas pelos indígenas.
Os moradores, acuados, recuaram para a aldeia e registraram vídeos dos disparos.
Relatos indicam que a ação foi coordenada, com intenção clara de expulsão da comunidade retomada.
A Aty Guasu, órgão representativo do povo Kaiowá e Guarani, destacou que a comunidade vinha sendo alvo de ataques desde a semana anterior, classificando este como o mais brutal.
Reiteraram que não aceitarão ser tratados como “invasores em suas próprias terras” e cobraram garantia dos direitos constitucionais.
Lamentou a morte de Vicente e atribuiu o crime à ação de pistoleiros que atuam na região.
A Funai mobilizou equipes internas e acionou a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), que chegou ao local pela manhã.
Reforçou a necessidade de políticas permanentes de proteção e de ações integradas de enfrentamento aos grupos armados.
Criou um Grupo de Trabalho Técnico para acompanhar os conflitos fundiários no MS.
Informou que, ao chegar, a FNSP encontrou três vítimas, sendo uma já sem vida.
As equipes realizaram socorro e reforçaram o patrulhamento em apoio à Polícia Federal e à Funai.
O ataque ocorre em um momento em que o papel dos povos indígenas para a proteção ambiental e mitigação climática é debatido internacionalmente, como na COP30.
A violência na TI Iguatemipeguá I evidencia:
A persistência de conflitos fundiários crônicos no sul do MS.
A presença consolidada de grupos paramilitares e milícias rurais.
A vulnerabilidade de territórios em processo de demarcação.
A associação entre disputa territorial e ameaças a defensores do clima.
O ataque de 20 homens armados à retomada Pyelito Kue insere-se em um conflito territorial de alta intensidade, caracterizado por violência sistemática contra o povo guarani kaiowá, falhas na proteção estatal e paralisia de processos demarcatórios.
A ação, além de letal, apresentou elementos de cerco, interrupção de vias, impedimento de socorro e ameaça direta à vida coletiva, reforçando a necessidade de urgente intervenção federal e de políticas de proteção contínua.
Fonte: Portal Meio Norte.