O segundo dia do julgamento da chamada “trama golpista” no Supremo Tribunal Federal (STF), foi marcado por um detalhe linguístico que acabou ganhando peso político. O advogado Andrew Fernandes Farias, representante do general e ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, afirmou que seu cliente teria atuado para “demover o presidente da República”, Jair Bolsonaro à época, de adotar medidas extremas — como uma intervenção ou golpe de Estado.
A palavra “demover” chamou a atenção da ministra Cármen Lúcia, que interrompeu a fala do advogado e observou:
— “Demover de quê?”
Segundo Farias, o general buscava evitar que Bolsonaro adotasse “qualquer medida de exceção”. A ministra encerrou a intervenção apenas com um irônico “Muito obrigada”.
O episódio, que poderia passar despercebido, reforçou a percepção de que havia intenção real de ruptura institucional por parte do ex-presidente. Afinal, se era necessário demovê-lo insistentemente, significa que a ideia de um golpe estava de fato posta sobre a mesa.
Nos dois primeiros dias de julgamento, as defesas dos réus próximos a Bolsonaro demonstraram clara tentativa de afastar seus clientes da intimidade e do círculo de confiança do ex-presidente.
A estratégia, no entanto, revelou fragilidades. Em alguns momentos, advogados chegaram a tropeçar em palavras que soaram mais condenatórias do que defensivas.
A avaliação de observadores é que, neste momento, as sustentações orais buscam minimizar as penas, já que uma condenação é considerada quase inevitável.
O parâmetro também preocupa os acusados: pessoas comuns já receberam penas de 14 a 17 anos de prisão. A expectativa, portanto, é que os principais mentores do golpe dificilmente consigam escapar de sentenças duras — e a chance de absolvição parece cada vez mais remota.
Por F. Silva/Barreiras 40 Graus.